Especialidade

A Terapia da Fala é uma especialidade multifacetada, e pode ser útil em qualquer idade, sendo utilizada com objetivos diversos, desde o desenvolvimento do instinto de sucção de um bebé prematuro, à promoção da comunicação numa criança com perturbação do espetro do autismo ou à recuperação da fala de um adulto que sofreu um AVC. Abrange, por isso, áreas muito diversas.
O terapeuta da fala intervém ao nível da linguagem, da fala, da voz, da motricidade orofacial, da articulação, da deglutição e das dificuldades de aprendizagem de leitura e da escrita, em crianças em idade escolar, quando estas revelam dificuldades na sua aquisição.

As dificuldades de comunicação nas crianças são comuns, especificamente nas idades pré-escolar e escolar. Podem manifestar-se de diversas formas e ter diversas origens. A Terapia da Fala é a especialidade mais indicada para estas situações e, embora possa ser indicada em qualquer fase do ciclo vital, o ideal é sempre uma deteção precoce das dificuldades, com vista a uma intervenção também precoce nas dificuldades identificadas.

Existe variabilidade individual na aquisição da linguagem mas é importante que a família, os professores, e os pediatras valorizem as idades que são consideradas normativas para uma determinada aquisição linguística. De fato, os atrasos graves no desenvolvimento da linguagem acabam por ter consequências na relação social da criança, prejudicando a sua autoestima, podendo até levar a comportamentos disruptivos como forma de chamar a atenção.

Em termos gerais, as situações em que as crianças poderão beneficiar de uma avaliação em Terapia da Fala são:

Em termos do Desenvolvimento da Linguagem:

– A criança tem 2 anos e ainda não fala, ou diz apenas poucas palavras. Em termos desenvolvimentais, é esperado que uma criança dessa idade possua um repertório com cerca de 20 palavras, e utilize frases com cerca de 4 sílabas;
– A criança parece não compreender o que lhe dizem; não responde ou responde inadequadamente ao que lhe é dito ou pedido;
– A criança revela-se distraída, presta pouca atenção àquilo que a rodeia;
– Comunica essencialmente por gestos.

No que diz respeito à Voz:

– A criança tem uma voz rouca, ou sente-se que faz um esforço para falar;
– Comunica essencialmente através de gritos;
– Existem queixas recorrentes de dores de garganta, ou de garganta seca ou áspera.

Do ponto de vista da Articulação:

– A criança não pronuncia algum som ou letra corretamente, ou faz trocas;
– Evidencia erros na articulação dos sons, e/ou omite sílabas na palavra;
– Fala muito depressa ou atrapalha-se no seu discurso;
– A criança fala "pelo nariz";
– Usou a chupeta até muito tarde (+ de 5 anos) ou ainda usa.

Em relação à Gaguez:

– A criança tem mais de 4 anos e evidencia sinais inequívocos de gaguez;
– Quando fala, bloqueia ou repete várias vezes os mesmos sons ou palavras;
– A criança isola-se muito;
– Revela vergonha ou inibição em falar.

No que diz respeito às funções de Mastigação e Deglutição:

– A criança mastiga os alimentos de boca aberta;
– Evidencia dificuldades em mastigar ou não consegue mesmo mastigar;
– A criança baba-se frequentemente ou engasga-se com alimentos sólidos e/ou líquidos.

Na aprendizagem da Leitura e da Escrita (especificamente em crianças com mais de 7 anos de idade ou com o 2º ano de escolaridade completo, uma vez que até essa idade ou nível de escolaridade, muitas dessas características são comuns e não configuram qualquer tipo de quadro clínico):

– A criança efetua trocas de sons ou de letras na leitura ou na escrita;
– Não gosta de ler, ou a sua leitura é lenta e pausada;
– Não gosta de escrever;
– A criança dá muitos erros ortográficos na leitura e na escrita.

A consulta de avaliação em Terapia da Fala tem como principal objetivo estabelecer o nível de comunicação da criança, em função da sua idade. O terapeuta da fala recorre a testes percetivos e/ou instrumentais, sendo fundamental a colaboração dos pais, no sentido de complementar a avaliação com informações referentes às rotinas e hábitos da criança.

Nos casos em que se justifica uma intervenção, a frequência e tipo de abordagem terapêutica são determinados pelos elementos da avaliação. Geralmente, consiste em sessões semanais ou bissemanais, individuais (embora se registem casos em que a terapia em grupo de 2 crianças potencia melhores resultados), sendo que a interação entre a criança e o terapeuta da fala ocorre num ambiente essencialmente lúdico e didático.

Habitualmente, no contexto da terapia utilizam-se jogos com objetos, figuras ou animais, incentivando-se a criança a identificá-los verbalmente, no sentido de perceber quais são os sons e letras que mais dificultam a sua comunicação. É também frequente a utilização de um espelho, para a criança se familiarizar com as posições e os movimentos corretos dos lábios e da língua.

A intervenção em Terapia da Fala deve iniciar precocemente. A experiência clínica revela que as crianças que beneficiam de Terapia da Fala em idade pré-escolar manifestam resultados melhores do que as crianças mais velhas. Embora as mais velhas apresentem progressos, o ritmo poderá ser mais lento, uma vez que já possuem alguns hábitos enraizados. A Terapia da Fala potencia resultados mais rápidos e duradouros nos casos em que se alia à terapia em si, a colaboração dos pais bem como a articulação com professores e médicos ou outros profissionais que acompanham a criança (pediatra, otorrino, psicólogo).

Corpo Clínico

Drª. Daniela Pequeno